A recontratação de autor evidencia sérios problemas da Globo na produção de novelas
- Vini
- 20 de set. de 2024
- 2 min de leitura
O retorno de Aguinaldo Silva, quatro anos após sua demissão de forma abrupta, gera expectativas de mudança na fase difícil da teledramaturgia do canal.
“Um dia, quando você menos esperar / Eu vou voltar sorrindo / Como se nada tivesse acontecido”, compôs Cazuza. Esse trecho da música "Quatro Letras" pode servir como trilha sonora para o retorno de Aguinaldo Silva à Globo.
O autor assinou contrato para escrever a novela “Três Graças”, que abordará três gerações de mulheres de uma mesma família que foram mães solo. A novela deve estrear na faixa das 21h no final de 2025, após o remake de “Vale Tudo”, ou no ano seguinte.
Silva foi dispensado pela emissora em 2020, após 41 anos de carreira. A forma como isso ocorreu causou constrangimento. “O que realmente me chateou e achei inadequado foi um rapaz da Globo me ligar no dia 1º de janeiro, em pleno feriado, às 8h da manhã, para avisar que meu contrato não seria renovado”, contou à ‘Veja’. “Eles não tiveram a preocupação de fazer algo mais cortês.”
A decisão de demiti-lo pesou em seu alto salário (estima-se que ele recebia entre R$ 500 mil e R$ 800 mil quando tinha uma novela no ar) e os problemas relacionados a “O Sétimo Guardião”. Além de ter uma audiência baixa, o folhetim com elementos de realismo fantástico gerou uma desgastante batalha judicial, amplamente coberta pela mídia.
Ex-alunos de um curso de roteiro ministrado por Aguinaldo alegaram ser coautores da trama. Essa situação, aliada à rivalidade com o então diretor de teledramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, culminou no fim da longa parceria do ganhador de dois Emmys Internacionais com a emissora da família Marinho.
O retorno de Silva ressalta a intenção da Globo de superar a fase complicada do departamento de novelas, especialmente no que se refere às produções das 21h. As últimas três novelas — “Renascer”, “Terra e Paixão” e “Travessia” — registraram médias de audiência abaixo do esperado (ironicamente, inferiores às de “O Sétimo Guardião”). A atual, “Mania de Você”, também começou com índices igualmente decepcionantes.
Sem contar com a maioria dos autores veteranos, devido a aposentadorias (como Manoel Carlos e Benedito Ruy Barbosa) ou falecimentos (como Gilberto Braga), e ainda hesitante em promover dramaturgos de novas gerações ao horário nobre, a emissora carioca precisou reconhecer o erro e corrigir a demissão.
Aguinaldo Silva, de 81 anos, autor de sucessos como “Roque Santeiro”, “Tieta”, “Vale Tudo”, “Senhora do Destino” e “Fina Estampa”, representa hoje uma esperança de reacender a paixão dos noveleiros pelas novelas da Globo.
Para ele, que vive em Portugal desde antes da pandemia, a recontratação é uma forma de retomar sua carreira e exorcizar o episódio de “O Sétimo Guardião”. Infelizmente, o programa X está fora do ar. Famoso por suas postagens irônicas, o dramaturgo certamente não perderia a oportunidade de criticar aqueles que deram como encerrada sua trajetória.
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